Farmacêutico se faz fundamental em contextos de ajuda humanitária
Fonte: Assessoria de Comunicação / CRF-PR
Data de publicação: 19 de março de 2019
Um dos conflitos mais devastadores da atualidade teve início em março de 2015 e desde então, 29 milhões de pessoas enfrentam a falta de alimentos, medicamentos, doenças, deslocamento e uma grave privação de acesso a serviços básicos sociais. Estima-se que existam 1,8 milhão de crianças subnutridas. Dessas, quase 400 mil em um quadro grave de saúde. A população com menos de 18 anos é a que mais sofre com as consequências da guerra civil que tornou-se a maior crise humanitária do mundo. O cenário é de morte, destruição e fome.
Este é um breve panorama do Iêmen, um dos mais pobres entre os países árabes, que está prestes a completar quatro anos em uma violenta guerra civil e sem perspectivas para acabar. Esta é uma realidade bem distante da nossa, que acompanhamos através dos veículos de comunicação e nos solidarizamos emocionalmente. Porém, se pudéssemos aproximar o olhar como quem aproxima uma imagem em seu smartphone para observar os detalhes de uma foto, enxergaríamos a estrutura de apoio a esta situação e encontraríamos o farmacêutico desempenhando um papel tão arriscado quanto fundamental para salvar vidas!
Francelise Bridi Cavassin é farmacêutica pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), especialista em Farmacologia e Administração Hospitalar, mestre em Microbiologia, Parasitologia e Patologia e doutoranda em Medicina Interna, além de atuar como docente no ensino superior em Curitiba, relata como é a experiência nos projetos de Médicos Sem Fronteiras (MSF) para essa especialidade. Ela já esteve em quatro deles e voltou recentemente do Iêmen, país localizado no Oriente Médio, onde os conflitos armados vem desestruturando o sistema de saúde desde 2015. Atualmente a situação nesse país é considerada o maior desastre humanitário do mundo. Aliás, a “O Farmacêutico em Revista” já entrevistou a Dra. Francelise em outra edição. Confira!
Em meio ao caos,o trabalho é árduo e tem de ser muito organizado
A gestão de insumos médico-hospitalares (recebimento, armazenamento, distribuição e acompanhamento) é uma das principais obrigações do farmacêutico que atua nos diversos projetos da organização internacional Médicos Sem Fronteiras ao redor do mundo. Pode parecer não muito diferente das tarefas realizadas pelos profissionais no Brasil, mas a opção por trabalhar com ajuda humanitária traz experiências diferentes para o profissional que busca aprimorar-se em contextos complexos de trabalho e, muitas vezes, com realidades regulatórias bastante incomuns.
Em Aden, no sul do Iêmen, Dra. Francelise foi responsável por auxiliar as atividades na farmácia do hospital do Médicos Sem Fronteiras na cidade, com 83 leitos e atendimento gratuito à população. O centro de saúde tem cerca de 300 funcionários locais, um dos mais equipados na região e especializado em traumatologia e cirurgias complexas para ferimentos de bala, explosivos e outras armas de fogo. Nos dois meses que esteve na região, a farmacêutica paranaense atuou com uma equipe de outros seis farmacêuticos iemenitas.
Por ser um hospital bastante equipado para o contexto de conflitos na região muitos dos materiais e medicamentos que chegavam ao local eram distribuídos para outros postos de saúde que recebem apoio de Médicos Sem Fronteiras e também para outros projetos de MSF em diversas regiões do país. Uma das funções da Dra. Francelise era organizar o transporte dos insumos hospitalares de Aden para outros centros médicos. “Eram 13 geladeiras para guardar medicamentos, vacinas e testes laboratoriais que necessitam de refrigeração. Trabalhamos com protocolos e equipamentos de padrão europeu com grande preocupação no transporte de insumos para garantir que nada seja danificado ou perdido. Tínhamos que considerar a legislação do país e pensar em alternativas para caso determinados medicamentos não pudessem ser importados”, explicou.
Dra. Francelise Cavassin está entre os dez farmacêuticos brasileiros que trabalham com Médicos Sem Fronteiras. Durante os projetos que participou, a especialista fez cursos promovidos por MSF para os profissionais da organização na Bélgica e em Barcelona e também treinamentos nos próprios projetos para lidar com emergências. Chegou a trabalhar na Índia, Serra Leoa e Iraque, desde quando entrou para a organização em 2012.
Para ela, é crucial que o profissional tenha um grande conhecimento em farmácia hospitalar aplicada, em doenças negligenciadas e uma boa preparação psicológica para seguir um caminho de trabalho com as crises humanitárias em diversas situações. “Podemos ser chamados para trabalhar com epidemias, guerras, catástrofes naturais, desnutrição e demais contextos“, pontuou. “Em primeiro lugar você tem que ter amor pelo trabalho humanitário e estar preparado para lidar com diferentes condições de vida. No Iêmen, por exemplo, tivemos que dormir no hospital todos os dias, não podíamos sair para nada. Era trabalhar e morar no mesmo local.” A farmacêutica relatou ainda que a rotina varia em cada contexto, “em alguns locais, o profissional de MSF precisa estar preparado para situações de desconforto, como tomar banho com uma caneca, água fria e usar banheiros sem vasos sanitários com sistema de latrina”. Porém, Dra. Fancelise conta que o mais instigante de sua atuação no MSF é a oportunidade de, através de sua profissão, ajudar as pessoas que vivem em situação permanente de risco.
Para atuar em MSF
Aos profissionais que buscam uma oportunidade de carreira em Médicos Sem Fronteiras, Dra. Francelise ressaltou que a organização precisa de bons profissionais com experiência: “Quanto mais especializado melhor. Você tem que ter experiências no Brasil e saber bem do seu trabalho porque na hora você tem que tomar decisões muito sérias, muitas vezes sob pressão, e ainda tendo que manter a qualidade do serviço para nossos pacientes, que é nosso bem mais precioso”, completou a profissional.
Sobre o Médicos Sem Fronteiras
A organização Médicos Sem Fronteiras foi criada em 1971, na França, a partir da experiência de médicos e jornalistas com crises humanitárias internacionais e com a missão de levar ajuda médica a esses contextos. Os profissionais que queiram construir uma carreira na organização podem se candidatar às oportunidades remunerados por períodos diversos. Atualmente, MSF possui 462 projetos em 72 países no mundo. Para se candidatar, é preciso enviar o currículo em inglês ou francês com uma carta de motivação para o endereço [email protected]. Apenas as pessoas aprovadas nesta fase receberão o contato dos recrutadores em algumas semanas. Pela complexidade dos contextos onde MSF atua, a organização busca profissionais com experiência mínima de dois anos e especialização. Para saber mais sobre os requisitos, acesse o site www.msf.org.br
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