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Cientistas fazem primeiros testes com vacina universal contra o câncer
Data de publicação: 3 de junho de 2016
RIO - Nos últimos anos, a chamada imunoterapia emergiu como principal promessa de vitória contra o câncer. Com ela, os médicos procuram convocar as defesas do próprio organismo dos pacientes para destruir as células cancerosas, que por serem muito parecidas com suas saudáveis acabam escapando da ação do sistema imunológico. Os tratamentos, no entanto, podem ser extremamente caros, com remédios que custam até dezenas de milhares de reais por mês e que algumas vezes precisam ser personalizados para identificar características específicas dos tumores de determinado do doente.
Mas uma nova técnica que ensina as defesas do organismo a atacar as células cancerosas como se fossem um vírus, ou outro corpo estranho que o tenha invadido, pode mudar este cenário. Desenvolvida por pesquisadores na Alemanha, ela tem o potencial de permitir a criação de vacinas “universais” contra a doença, isto é, que funcionariam contra qualquer tipo de câncer em qualquer pessoa, o que também baratearia em muito os tratamentos. E em testes iniciais com camundongos e três pacientes humanos os resultados foram promissores, relatam os cientistas em artigo publicado na edição desta semana da revista científica “Nature”.
Mas uma nova técnica que ensina as defesas do organismo a atacar as células cancerosas como se fossem um vírus, ou outro corpo estranho que o tenha invadido, pode mudar este cenário. Desenvolvida por pesquisadores na Alemanha, ela tem o potencial de permitir a criação de vacinas “universais” contra a doença, isto é, que funcionariam contra qualquer tipo de câncer em qualquer pessoa, o que também baratearia em muito os tratamentos. E em testes iniciais com camundongos e três pacientes humanos os resultados foram promissores, relatam os cientistas em artigo publicado na edição desta semana da revista científica “Nature”.
“Nosso estudo introduz uma nova classe de vacinas contra o câncer extraordinariamente potentes que permitem um eficiente redirecionamento do sistema imunológico para atacar uma ampla gama de antígenos (nome genérico para qualquer corpo estranho que provoque uma resposta imune) tumorais”, contou Ugur Sahin, professor da Universidade Johannes Gutenberg que liderou a pesquisa e também é presidente da Biopharmaceutical New Technologies (BioNTech), empresa dedicada ao desenvolvimento de imunoterapias contra o câncer, em um comunicado divulgado pela companhia. “Este é um grande passo rumo ao nosso objetivo de tornar as imunoterapias acessíveis e aplicáveis contra todos os tipos de câncer”.
Na técnica, os cientistas encapsularam trechos de RNA — um tipo de código genético “mensageiro”, que carrega informações para a fabricação de uma determinada proteína — característicos de proteínas produzidas por células cancerosas de diversos tipos de tumores, mas ausentes nas células saudáveis, em uma membrana de lipídios (gorduras). Então, eles injetaram essas nanopartículas diretamente na corrente sanguínea dos camundongos e observaram a reação de seu sistema imunológico.
Nesta fase do estudo, os pesquisadores analisaram quais trechos de RNA e sua proporção com as nanocápsulas de gordura melhor ativavam a resposta das defesas do organismo, verificando também que ela provinha principalmente das chamadas células dentríticas. Estas células estão entre as principais responsáveis por identificar e “apresentar” novos antígenos aos chamados linfócitos T, fazendo a ponte entre o que são conhecidos como sistema imunológico inato e adaptativo.
Estes linfócitos, por sua vez, têm funções múltiplas no corpo. Nas vacinas contra o câncer, os cientistas viram a produção principalmente de dois tipos deles, chamados CD4+ e CD8+. Os primeiros, parte do sistema adaptativo, também são conhecidos como “ajudantes” por guiarem a produção de anticorpos e outros mecanismos de defesa que destroem os invasores, neste caso as células cancerosas, além de “lembrar” ´com quais antígenos o organismo já entrou em contato, tornando sua resposta mais eficiente. Já os linfócitos CD8+, também chamados “matadores”, como o nome diz atacam diretamente os invasores, ou, novamente neste caso, as células dos tumores, característica típica do sistema inato.
E é justamente por provocar esta resposta combinada dos sistemas imunológico inato e adaptativo dos pacientes o grande mérito da nova técnica na luta contra o câncer, destacam os pesquisadores. “Estas vacinas são rápidas e baratas de produzir, e virtualmente qualquer antígeno tumoral pode ser codificado com o RNA”, escreveram no artigo na “Nature”. “Assim, a abordagem com nanopartículas de RNA introduzida aqui pode ser vista como universalmente aplicável em novas vacinas para imunoterapia contra o câncer”.
Ainda no artigo na “Nature”, os pesquisadores relatam um teste clínico limitado da técnica em humanos. Nele, três pacientes diagnosticados com melanoma receberam injeções com nanopartículas carregando quatro trechos de RNA produtores de proteínas típicas deste tipo particularmente agressivo de câncer, que geralmente atinge a pele. E embora as doses recebidas por eles tenham sido proporcionalmente muito menores do que as dadas aos camundongos — já que nesta etapa de testes clínicos, conhecida como Fase 1, o principal objetivo é verificar a segurança, e não a eficácia, de um tratamento —, todos apresentaram o que foi considerado uma “forte” resposta imunológica, com sintomas iniciais parecidos com o de uma gripe, em mais uma indicação da ativação tanto de seus sistemas inatos quanto dos adaptativos.
Em um dos pacientes, um tumor identificado em um nódulo linfático aparentemente diminuiu de tamanho. Já outro, que teve os tumores removidos cirurgicamente da pele antes de receber a vacina, permaneceu livre do câncer por pelo menos sete meses. O último, por sua vez, já tinha oito tumores espalhados em seus pulmões que permaneceram “clinicamente estáveis”, isto é, teriam parado de crescer.
Apesar destes resultados promissores, porém, especialistas alertam que ainda há um longo caminho a percorrer antes que vacinas contra o câncer produzidas com a nova técnica cheguem ao mercado.
— Embora a pesquisa seja muito interessante, ela ainda está um tanto longe de provar ser benéfica para os pacientes — comentou Alan Melcher, do Instituto de Pesquisas sobre Câncer do Reino Unido.
Fonte: O Globo
Fonte: O Globo
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