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Explode o número de casos de chikungunya no Brasil


Data de publicação: 18 de abril de 2016

Esquecida até há pouco tempo em meio às preocupações com dengue e zika, a chikungunya agora se mostra como uma afeção tão ou mais alarmante no país. A explosão no número de casos notificados da infecção nos primeiros meses deste ano tem preocupado -- e muito -- os especialistas. De acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, até o dia 5 de março, haviam sido notificados 13.676 casos prováveis de febre chikungunya no país, destes, 550 já confirmados.

Em 2015, no mesmo período, foram registrados 4.890 casos prováveis. Ou seja, houve um aumento de quase 180% nos casos da doença. Apenas os estados do Rio de Janeiro e de Mato Grosso não notificaram casos suspeitos em 2016. O nordeste concentra a maior parte de doenças (11.170), seguido pela região Norte (1.108) e Sudeste (769). No Sudeste, São Paulo é o campeão no número de notificações: 653 contra apenas 36 no mesmo período do ano passado. Destes, 103 já foram confirmados, sendo seis autóctones (cinco na capital e um em Rio Claro).

Em Pernambuco, Estado campeão no número de casos de microcefalia e com grande incidência de zika, até o último sábado (9), foram notificados 16.488 casos de chikungunya, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde. Quase o dobro dos casos suspeitos de zika (8.337) registrados até o momento, mas ainda bem menor do que os de dengue (50.030).

Em relação ao número de óbitos pela doença, segundo o ministério, apenas duas mortes por febre chikungunya foram confirmadas no Brasil (uma na Bahia e uma em Pernambuco) e outros quatro estão em investigação. Entretanto, de acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, somente no Estado já foram registradas nove mortes pelo vírus. Embora raramente fatal, pessoas com imaturidade ou envelhecimento imunológico, como crianças e idosos, e doentes crônicos como cardíacos ou diabéticos, correm maior risco.

Diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo: "Em geral, nos três primeiros anos após o vírus chegar a um novo local, há um aumento gradual no número de casos, pois se trata de uma fase de adaptação ao mosquito transmissor. Já o ápice do número de infecções acontece entre o quarto e quinto ano. Neste período, em que o vírus já está adaptado, há um aumento da eficácia da transmissão que, em conjunto com uma grande quantidade de pessoas vulneráveis (que ainda não foram infectadas), leva ao aumento exacerbado do número de casos."

Isso significa que o Nordeste, região em que a a doença chegou primeiro, está passando agora pelo ápice das infecções por chikungunya. No Sudeste, isso deverá acontecer em um ou dois anos.

Características da chikungunya

Embora tenha sintomas em comum com a dengue e a zika, a principal característica da chikungunya é a forte dor nas articulações, que, em até 20% dos casos, pode durar por um ano ou mais. Outro dado de alerta é que a probabilidade de pessoas infectadas pelo vírus desenvolverem sintomas é bem maior do que nos casos de dengue e zika: entre 80% e 90% dos infectados por chikungunya apresentarão sinais da doença. Para a dengue a taxa fica entre 50% e 60% dos infectados. Para a zika esse número cai para 20% a 30%.

Os principais sintomas, que aparecem de 2 a 12 dias depois da picada do mosquito, são: febre alta, mal-estar, dor de cabeça, manchas vermelhas na pele, cansaço e, em especial, dor nas articulações. Em relação à duração destas manifestações, elas tendem a desaparecer após a fase aguda da infecção (5 a 10 dias), exceto pela dor nas articulações que permanece por até um mês em 20% a 30% dos pacientes e por um ano - ou mais - em 10% a 20%. Nestes casos, o tratamento exige a administração de anti-inflamatórios potentes ou até mesmo cortisona, para melhorar a dor e a inflamação.

"A poliartrite, comprometimento das articulações semelhante ao reumatismo é justamente o que caracteriza a febre chikungunya. A dor, que é intensa, prolongada e limitante nas juntas, já ganhou o nome de "artrite chikungunya", pois nestes pacientes é necessário procurar um reumatologista e fazer um tratamento semelhante ao da doença reumatoide", diz Juvencio José Duailibe Furtado, coordenador científico do departamento de infectologia da Associação Paulista de Medicina.

A maior probabilidade de manifestação clínica e de duração prolongada dos sintomas da chikungunya pode estar relacionada com uma descoberta recente dos pesquisadores: a concentração desse vírus em pequenas quantidades de sangue é muito maior do que a concentração do vírus da zika ou da dengue. Segundo Timerman, isso significa uma maior adaptabilidade do vírus em se manifestar no corpo humano e pode explicar a maior agressividade e duração da resposta imunológica do corpo à infecção.

Em relação ao tratamento, na fase aguda é o mesmo da dengue: muita hidratação, repouso e analgésico. Apesar da dor intensa nas articulações, neste período é contraindicado o uso de anti-inflamatório. Após este estágio, caso a dor persista, é necessário procurar um especialista que irá indicar o tratamento mais adequado.

O grande desafio contra a doença, além do combate ao vetor, é o diagnóstico específico. "Como as três doenças têm sintomas parecidos, a avaliação clínica não é suficiente para um diagnóstico preciso. Para isso, é necessário realizar também o teste sorológico, que frequentemente está em falta na rede pública ou não é coberto por planos de saúde. Também é essencial capacitar melhor os profissionais e ter infectologistas de plantão, que estão preparados para atender e diagnosticar estas doenças.", afirma Timerman.

Vírus chikungunya

O vírus causador da febre chikungunya é o CHIKV. A doença foi identificada pela primeira vez em 1952 na Tanzânia, na África. Desde então ela começou a se espalhar pela África, Ásia, Europa e América. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o nome chikungunya é uma palavra do idioma africano makondée que significa "ficar contorcido", descrevendo a aparência encurvada dos pacientes que se contorcem por causa da intensidade das dores nas articulações. Atualmente, o vírus está presente em 45 países.

Fonte: Veja


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