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OMS em alerta com transmissão sexual do zika
Data de publicação: 5 de fevereiro de 2016
Se não bastasse o mosquito, agora o sexo. Cresceu ontem o receio de que o vírus zika possa ser transmitido por via sexual em escala mais frequente do que a imaginada. Porém, segundo o virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, um dos pioneiros na pesquisa do zika e o único brasileiro a integrar o comitê sobre a doença da Organização Mundial de Saúde (OMS), não há motivo para alarde no Brasil. O mosquito é o principal meio de transmissão do zika e deve ser o foco da prevenção, afirma ele.
Pesquisador do Instituto Evandro Chagas, no Pará, Vasconcelos está em Galveston, no Texas, reunido com outros especialistas no laboratório da Universidade do Texas. Eles estudam o vírus e o desenvolvimento de uma vacina a partir de amostras coletadas no Brasil. O alerta da OMS sobre o risco de o sêmen transmitir zika soou após a divulgação da contaminação de uma pessoa de Dallas, nos Estados Unidos, por via sexual. Essa pessoa contraiu o vírus após fazer sexo com outra que chegou com sintomas de zika da Venezuela.
Uso de camisinha
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) confirmou que foi contágio sexual e recomendou aos homens que viajarem para países com epidemia que usem camisinha. E aqueles que adoecerem de zika devem evitar relações sexuais por um período de quatro a oito semanas. Sugeriu ainda que gestantes devem “evitar o contato com o sêmen de homens recentemente expostos ao vírus”.
— É importante estudar com cuidado essa possível transmissão sexual — disse ontem um porta- voz da OMS.
— É importante estudar com cuidado essa possível transmissão sexual — disse ontem um porta- voz da OMS.
Para Pedro Vasconcelos, essas medidas podem ser razoáveis para um país sem grande dispersão do Aedes aegypti. Mas no Brasil e em toda a América Latina, onde o mosquito está amplamente difundido, não têm impacto, porque toda a população está exposta ao risco de ser picada, meio de contágio principal.
— É praticamente impossível provar que alguém foi contaminado por via sexual nos países infestados pelo Aedes aegypti, porque o mosquito é a principal via. O vírus evoluiu para ser preferencialmente transmitido pelo mosquito — explica o virologista.
Vasconcelos explica que o zika possivelmente sofreu algum tipo de mutação que o tornou capaz de sobreviver em fluidos corporais, como o sêmen e a urina, por mais tempo. Arbovírus ( vírus transmitidos por insetos) como o zika não são disseminados dessa forma. Porém, desde 2008 sabe- se que ele pode sobreviver por algum tempo no sêmen, o suficiente para ser transmitido. — Talvez fique por algumas semanas ativo no sêmen. O quanto exatamente, não sabemos — disse Vasconcelos.
Em 2008, um homem do Colorado contaminou a mulher com zika após voltar doente da África. A mulher jamais foi picada por mosquito, e acabou por se descobrir que o meio de contágio foi sexual. Em 2015, cientistas isolaram o vírus do sêmen de um taitiano com zika. O caso de Dallas é o terceiro comprovado no mundo.
Especialista em arbovírus — já participou do isolamento de centenas deles na Amazônia —, Vasconcelos afirma que tudo no zika é novo. — O sexo é uma via secundária de contágio. Mas evidentemente precisa ser estudada. Como tudo sobre o zika, ainda sabemos pouco. Já sabemos que ele se mantém mais tempo no sêmen e na urina do que no sangue. Isso é novo. Por que acontece, um mistério. Assim como é um mistério como consegue afetar o desenvolvimento do sistema nervoso central de forma tão devastadora. E precisamos descobrir logo. Isso é fundamental para tratar e prevenir a infecção — destaca o cientista.
Anvisa autoriza cinco testes
No Brasil, depois de uma análise em tempo recorde, cerca de 20 dias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a comercialização de cinco testes, de uso em laboratório, para diagnóstico de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Três deles são capazes de detectar o vírus zika, relacionado à epidemia de microcefalia.
No Brasil, depois de uma análise em tempo recorde, cerca de 20 dias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a comercialização de cinco testes, de uso em laboratório, para diagnóstico de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Três deles são capazes de detectar o vírus zika, relacionado à epidemia de microcefalia.
O tempo para o resultado varia dependendo do produto: de algumas horas a até 3 dias, segundo a Anvisa. A partir da autorização para comercializar os testes, publicada ontem no Diário Oficial da União, as empresas já podem começar a vendê-los. Os laboratórios com o aval da Anvisa são o alemão Euroimmun e o brasileiro Quibasa.
Dos cinco testes, dois detectam dengue, zika e chicungunha. Um é só para zika, outro apenas para dengue e ainda há um só para a chicungunha. A expectativa do Quibasa é que os testes autorizados pela Anvisa possam começar imediatamente a ser vendidos a laboratórios privados e públicos do país.
A metodologia usada só permite a identificação do vírus na fase aguda da infecção. O problema é que 80% dos pacientes que contraem zika não apresentam sintomas. Nesses casos, os kits de diagnóstico produzidos pelo Euroimmun serão capazes de detectar o vírus tempos depois da infecção, rastreando os anticorpos produzidos pelo organismo do doente. Os testes da Euroimmun identificam os três vírus.
Fonte: O Globo
Fonte: O Globo
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