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Cuidado com antidepressivos em crianças e jovens
Fonte: O Estado de S.Paulo
Data de publicação: 1 de fevereiro de 2016
Créditos: Jairo Bouer
Dois estudos publicados na última semana trazem informações e alertas importantes em relação à depressão em jovens e o impacto que o tratamento pode ter em suas vidas. O primeiro trabalho mostra que o uso de antidepressivos de duas das classes mais prescritas nos EUA pode dobrar o risco de suicídio e de violência em crianças e jovens. Na lista estão medicamentos como fluoxetina, paroxetina, sertralina, duloxetina e venlafaxina, todos comercializados e amplamente usados no Brasil.
Mais de 1% dos jovens americanos com menos de 18 anos toma algum tipo de remédio para tratar sintomas de depressão e transtornos da ansiedade (os antidepressivos têm um espectro de tratamento que vai além da própria depressão). A agência reguladora de medicamentos dos EUA, a FDA, já havia alertado anteriormente sobre o maior risco de suicídio em adultos jovens (18 a 24 anos) que tomam antidepressivos e recomendado monitoramento cuidadoso dos pacientes em tratamento.
Nesse novo trabalho, um grupo de pesquisadores da Dinamarca se debruçou sobre 70 estudos clínicos, que envolveram quase 19 mil pacientes, para chegar à conclusão do maior risco de morte, tentativas de suicídio, inquietação permanente (acatisia), agressão e violência com o uso desses remédios pelos menores. O resultado foi publicado no periódico British Medical Journal e divulgado pelo site Medical News Today. O mesmo efeito não foi constatado em indivíduos adultos que usam esses medicamentos.
Os pesquisadores sugerem que trabalhos anteriores falharam ao não valorizar informações que mostrariam maior risco em crianças e adolescentes, já que esses eventos são relativamente raros. Eles sugerem que alternativas aos remédios poderiam ser terapias de diversas modalidades e mudanças nos hábitos de vida (como mais atividade física, por exemplo). Para eles, o uso de antidepressivos em crianças, adolescentes e adultos jovens deveria ser feito com mais critério e menor frequência.
De mãe para filha. Outro trabalho da última semana, da Universidade da Califórnia, sugere que estruturas cerebrais importantes para o controle das nossas emoções, como o circuito do córtex límbico (amígdala, hipocampo, porção ventro-medial do córtex pré-frontal), são mais “transmitidas” das mães para as filhas do que das mães para filhos e do que dos pais para filhas ou filhos. Essa peculiaridade pode sugerir que uma parte da propensão ou da resistência à depressão nas garotas pode ser “herdada” de suas mães.
O estudo, publicado no periódico Journal of Neuroscience e divulgado pelo jornal inglês Daily Mail, analisou imagens de ressonância magnética de 35 famílias. Enquanto trabalhos anteriores já apontavam uma associação entre depressão em mães e filhas, essa nova pesquisa, ao medir o tamanho das áreas cerebrais de pais e filhos, identificou uma estrutura cerebral específica, que tem relação com depressão e que pode ser transmitida pela linha matriarcal. A correlação da substância cinzenta (onde estão o corpo das células nervosas) do córtex límbico foi muito maior entre mães e filhas.
Isso não significa que as mães são “culpadas” pela depressão das filhas, alertam os pesquisadores, já que há uma série de outros fatores envolvidos no desencadeamento da doença, como genes não herdados da mãe, questões ambientais e sociais e experiências de vida, entre outros tantos. A transmissão da mãe para a filha é apenas uma parte dessa complexa e intricada história. Os especialistas avisam que mais pesquisa é preciso para avaliar o peso da genética e das condições pré-natais e pós-natais na “transmissão” desses circuitos cerebrais.
De qualquer forma, como a depressão parece cada vez mais frequente nos mais novos, é importante ir mais a fundo em suas causas, novas possibilidades terapêuticas, além de maior cuidado nos tratamentos medicamentosos que existem hoje.
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