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Lentidão da Anvisa já traz desabastecimento
Fonte: Brasil Econômico
Data de publicação: 19 de junho de 2015
O atraso na liberação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de insumos importados está prejudicando desde o início do ano a indústria farmacêutica, levando até ao desabastecimento de produtos como os kits para diagnóstico da dengue. A espera pela chamada “anuência sanitária” da agência reguladora aumentou de menos de uma semana corrida para até 30 dias úteis, de acordo com a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), que representa 40 empresas do setor. A situação é particularmente crítica nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e do Galeão.
“Faltam funcionários na Anvisa para fazer a liberação dos produtos importados”, afirma Carlos Gouvêa, presidente executivo da CBDL. “O quadro da agência tinha muitos servidores federais cedidos por outras autarquias e órgãos federais, alguns deles já extintos. Uma grande parte se aposentou e não houve preenchimento das vagas em aeroportos”. Por utilizar matérias-primas com menor vida útil, mais perecíveis, o segmento de diagnóstico laboratorial vem sofrendo mais com a demora nas liberações. Fabricante de kits para diagnóstico da dengue, a carioca Medivax, por exemplo, tem esperado em média 45 dias para obter a liberação de seus insumos no Aeroporto do Galeão.
“Nossos insumos têm vida útil curta, de oito, nove meses. Um atraso de 45 dias é muito para nós”, comenta Eduardo Weizmann, gerente de Operações da empresa. Por causa dos atrasos, a Medivax não têm conseguido cumprir prazos previstos em licitações para entrega de produtos à prefeituras e órgãos de Estado.
Além de gerar desabastecimento de alguns produtos no mercado, a demora na liberação aumentou os custos de armazenagem, já que até passarem pelo crivo da Anvisa as mercadorias ficam estocadas em portos ou aeroportos. “A conferência pela Anvisa, em conjunto com o despachante aduaneiro, demorava três dias até o fim do ano passado”, conta Jorge Janoni, diretor geral do laboratório Kovalent e da importadora e distribuidora Byosis. Como a armazenagem é paga por semana, o grupo normalmente gastava apenas o valor referente a sete dias. Agora, chega apagar por quatro semanas de estocagem. “Todo mundo está super estocando. O problema é que o nosso produto tem prazo de validade”, diz Janoni.
De origem francesa, o laboratório bio Mérieux enfrenta dificuldades similares. “O volume de itens impactados pela lentidão já supera os 13 mil kits de diferentes produtos e reagentes utilizados no diagnóstico in vitro em laboratórios e hospitais. Alguns laboratórios e hospitais irão receber produtos com até 60 dias a menos de validade, na média”,estima Wesley Schiavo, gerente de Produto da bio Mérieux.
Já os fabricantes de medicamentos tendem a ser menos afetados do que os de produtos de diagnóstico laboratorial, por normalmente trabalharem com matérias-primas de validade mais extensa. Mesmo assim, a Interfarma — entidade que engloba 55 laboratórios — confirmou em nota que “algumas farmacêuticas associadas informaram estar enfrentando uma espera acima do normal para a liberação de cargas contendo matéria-prima e medicamentos”.
Ainda de acordo com a associação, “a espera acima do normal não chegou a comprometer o abastecimento do mercado nacional, mas o risco disso acontecer não está descartado”. No Brasil, 86% da matéria-prima empregada na fabricação de medicamentos é importada. “Praticamente toda a indústria farmacêutica é afetada pela demora na liberação das cargas”, acrescenta a Interfarma.
Um executivo do setor que pediu para não ser identificado conta que participou na semana passada de uma reunião com o diretor-presidente substituto da Anvisa, Ivo Bucaresky, na qual o tema foi abordado.
“Ele se mostrou ciente do problema e disse que a agência está fazendo um esforço em termos de recursos humanos para diminuir os atrasos,com remanejamento de pessoal”,conta ele.
Procurada para comentar os atrasos na liberação de insumos importados, a Anvisa não se pronunciou.
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