Humanidade enfrenta escalada na frequência de epidemias
Data de publicação: 30 de outubro de 2014
Infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, Celso Granato destaca a facilidade com que os surtos podem ser transportados mundo afora.
— Milhares de viagens aéreas são feitas por dia. Se eu te der US$ 10 mil, você pode ir para qualquer lugar do mundo e está exposto a uma infecção — relata.
As doenças que provocam os surtos também podem são típicas de cada região. Em alguns países pobres, por exemplo, a falta de informações cria resistências a campanhas de vacinação contra o sarampo e a poliomelite, entre outras enfermidades.
As precárias condições higiênicas também facilitam o surto de doenças nas nações pobres.
— A falta de saneamento básico deixa a população em constante contato com a água contaminada e o esgoto — lembra Anna Caryna Cabral, infectologista do Hospital Pedro Ernesto. — É um cenário que proporciona a difusão de casos de leptospirose, dengue e malária, entre muitas doenças.
Os meios de produção de alimentos também permitem mudanças de hospedeiros de doenças. A granja, segundo Granato, é um ambiente de “promiscuidade” para disseminação de patógenos entre as espécies. Dez anos atrás, por exemplo, o H5N1, uma cepa mortal da grive aviária, provocou pelo menos 375 mortes, a maioria na Indonésia, Egito e Vietnã.
Surtos aumentaram no Século XXI
A virulência dos surtos, porém, está diminuindo. Segundo Katherine, os centros de pesquisa estão detectando os focos de doenças com cada vez mais velocidade e eficiência.
Entre 1980 e 1985, o estudo da Universidade de Brown registrou menos de mil surtos. Entre 2005 e 2010, foram quase 3 mil. Nestes períodos, o número de doenças responsáveis por esta erupção de casos aumentou — eram menos de 140, e passaram para 160.
Para coletar estes dados, a equipe de Katherine recorreu a um leque de informações, como o PIB de cada país, o tamanho da população e o acesso à informação, seja pela liberdade de imprensa ou pelo uso da internet.
— Registramos mais surtos nos países desenvolvidos, como EUA, Canadá e na Europa Ocidental, porque neles há mais recursos para consulta e combate às doenças — avalia a pesquisadora. — Por outro lado, acredito que há muitos surtos desconhecidos nas nações em desenvolvimento.
Na América Latina, Brasil e México estão no topo do registro de surtos. Katherine ainda não analisou os motivos, mas acredita que, por aqui, isso ocorre devido à grande presença de agentes transmissores de doenças.
Granato acredita que o país tem condições para investigar grandes focos de doenças.
— Além do acesso à informação, o sistema de saúde funciona razoavelmente bem, e o índice de vacinação é eficiente — calcula. — São fatores que permitem a identificação de surtos. Mas ainda temos dificuldades para combater alguns deles. A dengue, por exemplo, é um problema crônico. E a chegada do vírus do chikungunya, que está no Caribe e também é transmitido pela picada de um mosquito, afundaria o país.
A tendência de aumento no número de surtos não assombra Granato, caso as doenças sejam monitoradas de perto.
— O sistema de vigilância é muito maior do que no passado — assinala. — A gripe, por exemplo, é estudada em 40 países, permanentemente alertas a qualquer mutação do vírus. Talvez não tenhamos vacina para todos eles, mas sem dúvida a fabricação será acelerada.
Doenças com mais focos
O chikungunya, aliás, é um dos mais recentes vilões do planeta. O vírus figura entre as dez doenças que causaram mais surtos entre 2000 e 2010. O ranking é liderado pela salmonela, seguida por e. coli, gripe A, hepatite, antraz, shigelose, tuberculose e triquinose.
A campylobacter, a cryptosporidiosis e a hepatite E, que estavam entre as doenças que causavam mais surtos nas décadas passadas, foram riscadas da nova seleção.
— É muito difícil saber quais vírus podem levar a um surto — admite Granato. — Três anos atrás, não acreditaria que o chikungya causaria um estrago tão grande.
Katharine realizou sua pesquisa com base no registro de surtos da Rede Global de Doenças Infecciosas e Epidemiologia (Gideon, na sigla em inglês). Agora, ela pretende recorrer à mesma fonte para cumprir a segunda etapa do seu estudo — o modo como as mudanças climáticas e do uso do solo vão influenciar as doenças infecciosas:
— Um mundo mais quente, com paisagens alteradas e mais urbano terá um novo modo de se relacionar com as doenças.
Fonte: O Globo
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