Entre os medicamentos veterinários, o relatório destaca os hormônios, antibióticos e parasiticidas. Assim como os hormônios sexuais sintéticos, os antidepressivos se dissolvem em gordura, não na água. Por isso, podem entrar na corrente sanguínea dos organismos expostos à água contaminada.
Um estudo de Kathryn Arnold que deve ser publicado no fim deste mês sugere que este fator está afetando o comportamento e a capacidade dos estorninhos, um tipo de pássaro, de se alimentar.
Arnold e colegas da Universidade de York analisaram como o Prozac impacta essas aves, que se alimentam de lagartas, vermes e moscas em áreas próximas a estações de tratamento de resíduos.
Estes organismos, por sua vez, se alimentam de alimentos encontrados na área - em geral, contendo altos níveis de fármacos, principalmente Prozac.
"No inverno, as aves tendem a consumir um bom café da manhã, beliscar ao longo do dia e comer bem antes de escurecer", disse a pesquisadora.
Sob o efeito do antidepressivo, elas não faziam isso: em vez de duas grandes refeições, elas comiam esporadicamente ao longo do dia e, no cômputo geral, comiam menos.
"Esse comportamento pode afetar o seu peso, os riscos que decidem correr ou não para obter alimentos e como se socializam", afirma a cientista.
"São variações pequenas e sutis mudanças que vão se somando e, no fim, podem comprometer a sobrevivência de uma espécie."
Uso excessivo?
Se o problema tem origem na água de resíduos, talvez a solução passe por reduzir a presença de farmacêuticos que vai parar em rios e córregos. Pode-se, por exemplo, desenvolver métodos mais eficientes de tratamento da água. Mas esta pode ser uma solução cara e gerar um gasto de energia muito elevado.
Ole Phal, professor da Universidade de Glasgow Caledonian, defende uma abordagem que inclua uma discussão sobre a produção e o uso de medicamentos. "Estamos tomando (medicamentos) demais? Estamos utilizando-os corretamente? Existe alguma maneira de se desfazer deles que seja mais benéfica para o meio ambiente?", questiona Phal.
"Precisamos refletir sobre o nosso uso de drogas farmacêuticas."
Fonte: G1