Pico da dengue já passou em pelo menos 10 cidades-sede
Data de publicação: 13 de junho de 2014
Na maioria das cidades que receberão jogos da Copa do Mundo, a dengue já tinha ultrapassado seu pico no final de maio. É o que mostram os dados de um levantamento feito pelo site G1 junto às secretarias municipais da saúde das 12 cidades-sede do Mundial.
"O número de casos de dengue está em queda. Excepcionalmente, poderia subir mediante uma condição muito favorável de calor e umidade, mas o pico já foi ultrapassado", diz o infectologista Marcelo Nascimento Burattini, professor da Faculdade de Medicina da USP e da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
De acordo com especialistas brasileiros, a época do Mundial – que inicia nesta quinta-feira (12) e vai até o dia 13 de julho – é caracterizada por uma queda sazonal do número de infecções por dengue. Apenas Cuiabá e Distrito Federal ainda registravam aumento no número de casos no fim do mês passado. Recife também apresentou uma ligeira alta no número de casos no final de abril, último dado divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde.
"O número de casos de dengue este ano é baixo em comparação à média dos últimos 5 anos", diz Burattini. Este ano, as ocorrências no país todo caíram 63,3% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde.
O cenário da dengue nas cidades-sede da Copa do Mundo tem motivado discussões quanto ao risco da ocorrência de surtos no momento em que o país espera receber cerca de 600 mil turistas estrangeiros. A questão foi, inclusive, tema de artigos publicados em revistas científicas internacionais nos últimos meses (leia mais abaixo).
Variações
Apesar de o número de infecções no país ser considerado baixo este ano, em duas das cidades-sede, o número de infecções em 2014 ultrapassou o de 2013. São Paulo já tem 6.896 ocorrências, quase três vezes mais do que o ano passado, quando houve 2.617 infecções. Salvador teve 3.551 casos notificados em 2014, contra um total de 2.720 casos em todo o ano de 2013.
A explicação para a variação do comportamento da doença nas diferentes regiões é que a transmissão da dengue depende de fatores locais como temperatura, umidade e presença de focos do mosquito Aedes aegypti. “A dengue, como outras doenças transmitidas por vetores, tem uma transmissão muito pontual do ponto de vista geográfico”, diz Burattini.
Além disso, “áreas que têm um grande número de infecções em um ano tendem a apresentar menos casos em anos subsequentes”, explica Burattini. Isso porque a população que já pegou o vírus em um ano ganha imunidade contra aquele subtipo da doença e fica protegida nos anos seguintes. Em São Paulo e em Salvador, ocorreu a dinâmica inversa: em 2013, o número de casos foi relativamente baixo. Este ano, à medida que menos moradores estavam imunes, o número de infecções aumentou.
Entre as 12 cidades-sede, as que tiveram mais casos de dengue confirmados este ano foram o Distrito Federal, com 7.805 casos até 31 de maio, e São Paulo, com 6.896 casos até 24 de maio.
A infectologista Nancy Bellei, coordenadora do comitê de influenza e virologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que as Regiões Sul e Sudeste devem registrar poucos casos de dengue durante o Mundial, devido à temperatura mais baixa e o tempo mais seco. Já nas Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, a previsão é mais difícil, devido à grande variabilidade climática das regiões. “É possível que haja casos durante a Copa, mas o risco é menor do que o que se imaginava”, diz a especialista.
Nas duas cidades do sul que receberão jogos da Copa, o número de casos registrados este ano foi muito baixo: Porto Alegre teve 5 casos e Curitiba não teve nenhum até o fim de maio.
Um estudo publicado em maio na revista "The Lancet Infectuous Diseases" identificou um alto risco para a ocorrência de dengue em Recife, Fortaleza e Natal durante a Copa do Mundo. Já um artigo publicado na revista "Nature" em novembro de 2013 destacava o risco de Salvador, Fortaleza e Natal.
O infectologista Luiz Ricardo Dalbelles, da Santa Casa de São Paulo, lembra que outras infecções podem ser observadas durante o período da Copa, como a do vírus influenza. “Temos que estar sempre atentos à gripe, apesar de este ano não estarmos observando grandes surtos”, diz.
Infecções gastrointestinais, levando a quadros de diarreia, também podem ser frequentes entre os turistas que vierem para a Copa. “O aumento da produção de comida rápida, dificilmente com boa fiscalização de procedência, além do calor e condições sanitárias não adequadas podem levar ao consumo de alimentos contaminados”, observa a infectologista Nancy Bellei. Também não estão descartadas infecções por malária e febre amarela nas áreas endêmicas.
Fonte: Site G1
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